sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Tráfico de drogas, o culpado é o consumidor?

Recebi uma estorinha por e-mail da minha mãe. Em resumo a estorinha era assim: um filho drogado que usava cocaína teve sua mãe assassinada por traficantes que queriam roubar seu carro pra invadir a boca vizinha pra ter mais drogas pra vender. E no final do e-mail dizia que o culpado de tudo isso era o consumidor.

Bem dramática a estorinha, mas isso é uma coisa criada por gente que não enxerga um palmo na frente da cara.

A culpa de tudo isso não é de quem usa as drogas. A culpa de tudo isso é a política equivocada do governo.

O governo não consegue combater as drogas já está comprovado isso. O modelo atual de combate às drogas vem sido usado há mais de 50 (CINQUENTA) anos e não funciona. Quem quer usar usa, tem fácil acesso, criou-se o tráfico, criou-se um poder paralelo ao poder público por conta dessa política absurda e atrasada de proibição e repressão.

Em países mais desenvolvidos as drogas foram discriminalizadas, o usuário parou de ser tratado como bandido. O uso de maconha e seus derivados já não é mais crime na Holanda, Portugal, Estados Unidos, Espanha, Argentina, Bélgica, Alemanha, Finlândia.

Resultado: Não há mais tráfico de drogas e o consumo diminuiu. Não se formou um poder paralelo do tráfico pois não há mais tráfico, então não há mais violência.

A culpa de tudo isso é do governo que deixou a população sem educação, escola, saúde e moradia e assim se formaram as FAVELAS. E nas favelas se concentrou um meio de renda extra que se chama tráfico. E isso só aconteceu porque as drogas são proibidas. Se não fossem, não teria por que todos correrem risco pra buscar drogas. Não haveria tiroteio nem sangue, nem armas nas mãos de crianças.

O Fernando Henrique Cardoso, estudioso, culto, ex-professor da USP, ex-presidente da república, fala cinco línguas, viajou o mundo todo, conhece muita gente importante. Ele lançou um filme que se chama QUEBRANDO TABU, que fala justamente sobre isso, sobre a discriminalização das drogas, para essas serem tratadas como questão de saúde e não de crime. Existe uma grande diferença entre discriminalização e legalização. Procure se informar.

O álcool e o cigarro matam muito mais do que todas as outras drogas ilícitas juntas!

Se quem quisesse consumir maconha (que é um remédio como qualquer outro, os índios sempre usaram, nas farmácias existem drogas 100 vezes piores) pudesse plantar seu proprio pezinho em casa e usar, isso não geraria o tráfico de drogas. O tráfico só existe porque o governo PROIBIU uma planta de existir na face da terra. Isso pra mim não é certo.

Então enquanto o governo não cair na real e encarar de frente essa questão com INTELIGÊNCIA e não violência e repressão isso não vai mudar. Não adianta espalhar e-mail com estorinhas fantásticas, pois o buraco é bem mais embaixo.

Pra terminar, segue a opinião de uma especialista:

Drogas são vendidas no mundo todo. Nas ruas de Berlim ou Lisboa vendedores oferecem suas mercadorias para moradores e turistas. Mas vender a droga não implica dominar comunidades inteiras, como os chefões fazem no Rio de Janeiro. “Chegamos a esta situação devido à ausência do Estado nas favelas e também à corrupção policial, que apreende as armas de um traficante e revende para o outro”, diz a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Cândido Mendes.

Muito fácil apontar a culpa para o usuário e isentar o ESTADO de suas responsabilidades básicas.

Revista Época - A elite e os traficantes