quarta-feira, 15 de julho de 2009

Eu ou Ela!!!

O príncipe cavalgava em seu cavalo branco. Parou em frente ao castelo. A princesa suspirou. Há quanto tempo esperava aquele momento. Seu herói finalmente aparecia para resgatá-la. O príncipe radiante beijou sua princesa apaixonadamente. Ela montou na garupa. Saíram pela floresta encantada. Agora, seriam felizes para sempre.

Isso se a princesa, mal chegada ao castelo do príncipe, não começasse a implicar com seu cavalo: Branco? Mas onde já se viu escolher logo um cavalo branco? Não tinha outra cor não? Branco é a maior trabalheira para ficar limpo. E esta crina enorme? Aposto que vai perder o maior tempo só cuidando dessa crina. Olha, melhor vender logo este cavalo que vamos precisar de dinheiro para um conjunto de sofá novo para colocar na sala do castelo. Este seu está um horror!

Antes era o cavalo. Agora é a motocicleta. Acho que desde que o mundo é mundo, as princesas, as mocinhas, sempre sonham com o herói, aquele ser destemido, disposto a enfrentar dragões e vilões para conquistar seu amor. Porém, por esta estranha mágica do amor, a primeira coisa que querem fazer depois do "foram felizes para sempre" é acabar com este papo de herói. E retirar o cavalo, ou melhor, a motocicleta, é a melhor garantia que o "seu príncipe" não vai sair por aí salvando outras princesas carentes.

É nessas horas que as princesas modernas, cheias de razão partem para a porrada. Ouvi, sem querer querendo, na academia uma conversa entre duas destas princesas: Meu namorado vai comprar uma Harley, disse a morena. Podia ser pior. Fiquei aliviada, pelo menos Harley é de tiozão e não corre nada.

Ih, isto é problema, disse a loira. Mesmo devagar é concorrência à vista!!!

Pensando melhor, acho que vou tirar isso da cabeça dele, retruca a morena.

O meu namorado só ficava cuidando da Triumph Speed Triple dele, amarela, muito bonita. Um dia me aborreci e mandei um "ou eu ou ela" relatou a loira.

E ele? Quis saber a morena.

Preferiu a moto, e eu fiquei chupando dedo.

Um outro amigo, dono de uma Yamaha XT 600, daquelas antigonas mas com uma pintura super conservada, atravessava uma época de dificuldades financeiras. Queria comprar alguns acessórios para a moto e precisava economizar. Sua princesa, toda animada, vinha com o convite: Vamos ao teatro? Depois a gente janta fora... Vai ser uma delícia.

Só de pensar na conta o rapaz ficava com uma súbita dor de cabeça. Desconversava. Vários teatros, filmes ou passeios depois, aos quais ele rejeitou todos, e ela quis saber a razão. Distraído, o rapaz confessou: É que estou economizando para comprar um par de pneus novos para a moto. Pronto, o céu caiu: Pneus? Quem pode trocar um show da Ivete Sangalo por um horroroso par de pneus? Assim não dá. Você vai ter de escolher entre os pneus ou eu.

Meu amigo agora desfila de garupa vazia, o seu novo par de pneus na XT 600, bem pretinhos e novinhos.

Falando assim parece até que os príncipes/motociclistas são heróis sem coração. Nada disso, um outro amigo, louco de paixão pela mulher e pelo filho pequeno, depois de passar um sábado inteiro (um hábito que ele sempre teve) lavando e cuidando da sua Honda Twister (acho que era a Twister mais conversava que eu já vi) tomou um "ou eu ou ela" da mulher e cedeu. No domingo seguinte, vendeu a moto.

Começou então a ficar pelos cantos, triste. Nem picotar o cartão da patroa não picotava mais. Teve depressão. O médico, conversa daqui, conversa dali, diagnosticou: Síndrome gravíssima de abstinência motociclística. Ele precisa andar de moto urgente, explicou o médico a mulher, que ouviu tudo com muita atenção.

No dia seguinte quando ele desceu do ônibus voltando do trabalho, cabeça baixa, olhar parado, ela mostrou a surpresa: Uma Tornado, linda, com painel digital. Pronto, ele abriu um sorriso de orelha a orelha. Ele voltava a ser príncipe, desfilava pelas ruas com o suave trote, digamos assim, da suspensão macia e gostosa da nova moto. Foram beijos e mais beijos e juras de fidelidade eterna que a princesa ganhou em agradecimento

É por coisas assim que um príncipe não pode ser separado de seu cavalo. Enfrentar a pé os dragões da maldade do dia-a-dia, definitivamente, não está com nada. Por isso, queridas e belas princesas, deixem seu herói em paz. Não foi assim, montados, garbosos, que conquistaram seu coração? Então...

Texto de Roberto Araújo, da revista Moto Maxx, edição de julho de 2009