quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Segredo de um motociclista apaixonado!


É uma delicia andar de moto de madrugada.
Vou lhes contar um segredo mas não espalhem, pra ninguém pensar que eu sou louco
Às vezes coloco o despertador as 3:00 da madruga
Acordo, me alongo, calço a bota, pego jaqueta, capacete, luvas
E saio por São Paulo
As ruas, enormes que durante o dia parecem tão apertadas
De noite são deliciosas
Caminhos livres para a minha liberdade
Só eu, minha moto e Deus...

Recomendo a todos, pelo menos uma vez na vida que experimentem a sensação de pilotar uma moto livremente por aí. É viciante, emocionante, contagiante! É por isso que existem motoclubes e pessoas que tem suas motos e cuidam delas como filhos.

Quando você está pilotando uma moto, você está integrado à ela, é tudo uma coisa só! Se vai fazer uma curva, você tem que deitar junto, e quando é uma curva em S, onde você sai de uma curva e já entra em outra do lado oposto, experimenta-se uma incrível sensação de ausência de gravidade. Tente fazer isso em um carro...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A gente se acostuma - Marina Colasanti

A gente se acostuma
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduiche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.

Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E se com a pessoa que a gente ama, a noite ou no fim de semana, não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesmo.